domingo, 2 de fevereiro de 2014

A atitude filosófica


“Conhece-te a ti mesmo”
Quem assistiu ao primeiro filme da série Matrix há de se lembrar da cena em que o herói, Neo, é levado pelo guia, Morfeu, para ouvir o oráculo.
·      oráculo
 No primeiro caso, significa “uma mensagem misteriosa" enviada por um deus como resposta a uma indagação feita por algum humano; é uma revelação divina que precisa ser decifrada e interpretada. No segundo, significa “uma pessoa especial”, que recebe a mensagem divina e a transmite para quem enviou a pergunta à divindade, deixando que o interrogante decifre e interprete a resposta recebida. Entre os gregos antigos, essa pessoa especial costumava ser uma mulher e era chamada sibila.

Essa mulher pergunta a Neo se ele leu o que está escrito sobre a porta de entrada da casa em que acabou de entrar. Ele diz que não. Ela lê para ele as palavras, explicando-lhe que são de uma língua há muito desaparecida, o latim.
O que está escrito? Nasce te ipsum. O que significa? "Conhece-te a ti mesmo." O oráculo diz a Neo que ele e somente ele poderá saber se é ou não aquele que vai livrar o mundo do poder da Matrix e, portanto, somente conhecendo-se a si mesmo ele terá a resposta.
O oráculo disse: “Sócrates é o mais sábio de todos os homens, pois é o único que sabe que não sabe”. Sócrates, como todos sabem, é o patrono da filosofia.

Neo e a Matrix
Morfeu quem lhe mostra a Matrix, fazendo-o compreender que passou a vida inteira sem saber se estava desperto ou se dormia e sonhava porque, realmente, esteve sempre dormindo e sonhando.
·      Matrix
Palavra latina derivada de mater; que quer dizer "mãe". Matrix tem todos esses sentidos: ela é, ao mesmo tempo, um útero universal onde estão todos os seres humanos cuja vida real é "uterina" e cuja vida imaginária é forjada pelos circuitos de codificadores e decodificadores de cores e sons e pelas redes de guias de entrada e saída de sinais lógicos.

A Matrix é o computador gigantesco que escraviza os homens, usando a mente deles para controlar seus sentimentos e pensamentos, fazendo-os crer que é real o que é aparente.
Os combates realizados por Neo e seus companheiros são combates mentais entre os centros de sensação, o combate real não é físico, e sim mental.

Neo e Sócrates
Neo sempre desconfiou de que a realidade não era exatamente tal como se apresentava.
Por que Sócrates é considerado o “patrono (o que luta e/ou defende uma causa, ideia etc.; protetor) da filosofia”? Porque jamais se contentou com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade, com as crenças inquestionadas de seus conterrâneos.

Sócrates levava os atenienses a descobrir a diferença entre parecer e ser, entre mera crença ou opinião e verdade.
O paralelo entre Neo e Sócrates não está apenas no fato de que ambos são instigados por “espíritos” que os fazem desconfiar das aparências, nem apenas por ambos consultarem um oráculo e receberem como mensagem o “conhece-te a ti mesmo", e nem mesmo porque ambos lidam com matrizes.

O Mito Da Caverna
O que é a caverna?
Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos percebendo é a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e saída caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A filosofia.



·      Diálogo Filosófico: Felicidade e satisfação
A felicidade deve ser semelhante ao conceito de saudável; também pode estar enganado quem diz “sou saudável”, ainda que se sinta, pelo menos no momento, extremamente saudável e não ter consciência (por ignorância ou uso de drogas) de um câncer não detectado. Matrix obviamente tem muito a ver com a questão do relacionamento entre nosso senso subjetivo do “eu” [eu sou livre, sou feliz] e a “realidade” das experiências que estamos vivendo.

Nossas crenças costumeiras
Por que crenças? Porque são coisas ou ideias em que acreditamos sem questionar.
Acredito que sonhar é diferente de estar acordado; que, no sonho, o impossível e o improvável se apresentam como possível e provável; e também que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto a vigília se relaciona com o que existe realmente.
Acredito, portanto, que a realidade existe fora de mim, que posso percebê-la e conhecê-la tal como é, e por isso creio que sei diferenciar realidade de ilusão.
Acreditamos, assim, que a realidade é feita de causalidades; que as coisas, os fatos, as situações se encadeiam em relações de causa e efeito que podem ser conhecidas por nós e, até mesmo, ser controladas por nós para serem utilizadas em nossa vida.

Exercendo nossa liberdade
Julgamos, assim, que as qualidades e as quantidades existem, que podemos conhecê-las e usá-las em nossa vida.
Porém, nem sempre avaliamos a mentira como uma coisa ruim: não gostamos tanto de ler romances, ver novelas, assistir a filmes? E não são mentira? Ê que também acreditamos que, quando alguém nos avisa que está mentindo, a mentira é aceitável, não seria uma mentira "pra valer”.
Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque possuem vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos que a vontade é o poder de escolher entre o bem e o mal. E sobretudo acreditamos que exercer tal poder é exercer a liberdade, pois acreditamos que somos livres porque escolhemos voluntariamente nossas ações, nossas ideias, nossos sentimentos.

Conhecendo as coisas
Ao dizermos que alguém "é legal" porque tem os mesmos gostos, hábitos e costumes muito parecidos com os nossos, estamos, silenciosamente, acreditando que a vida com as outras pessoas - família, amigos, escola, trabalho, sociedade, política - nos faz semelhantes ou diferentes em decorrência de normas e valores.
Achamos óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos quais discordam e com os quais entram em conflito.
Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas.
Cremos na existência da vontade e da liberdade e por isso cremos na existência do bem e do mal, crença que nos faz aceitar como perfeitamente natural a existência da moral e da religião. Cremos também que somos seres que naturalmente precisam de seus semelhantes e por isso tomamos como um fato óbvio e inquestionável a existência da sociedade com suas regras, normas, permissões e proibições. Haver sociedade é, para nós, tão natural quanto haver Sol, Lua, dia, noite, chuva, rios, marés, céu e florestas.
·      Dialogo filosófico:
Qual é a coisa mais importante da vida? Se fazemos essa pergunta a uma pessoa de um país assolado pela fome, a resposta será: a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem está morrendo de frio, então a resposta será: o calor. E quando perguntamos a alguém que se sente sozinho e isolado, então certamente a resposta será: a companhia de outras pessoas.
Mas, uma vez satisfeitas todas essas necessidades, será que ainda resta alguma coisa de que todo mundo precise? Os filósofos acham que sim.
Nos temos a necessidade de descobrir quem somos e por que vivemos.

E se não for bem assim?
Cremos que nossa vontade é livre para escolher entre o bem e o mal. Cremos também na necessidade de obedecer às normas e às regras de nossa sociedade. Que acontece, porém, quando, numa situação, nossa vontade nos indica que é bom fazer ou querer algo que nossa sociedade proíbe ou condena? Ou, ao contrário, quando nossa vontade julga que será um mal e uma injustiça querer ou fazer algo que nossa sociedade exige ou obriga? Há momentos em que vivemos um conflito entre o que nossa liberdade deseja e o que nossa sociedade determina e impõe.

Momentos de crise
Quando uma crença contradiz outra ou parece incompatível com outra, ou quando aquilo em que sempre acreditamos é contrariado por uma outra forma de conhecimento, entramos em crise.
Ou seja, sou livre quando sigo minha vontade ou quando sou capaz de controlá-la? Ora, para responder a essa questão precisamos fazer outras perguntas, mais profundas. Temos de perguntar: "O que é a liberdade?", "O que é a vontade?", "O que é a sociedade?", "O que são o bem e o mal, o justo e o injusto?".
“Se não percebemos os movimentos da Terra e se nossos olhos se enganam tão profundamente, será que poderemos sempre confiar em nossa percepção visual ou deveremos sempre desconfiar dela?”, “Será que percebemos as coisas como real- mente são?”.
Para responder a essas perguntas, precisamos fazer duas outras, mais profundas: "O que é perceber?" e "O que é realidade?".
O que está por trás de tais perguntas? O fato de que estamos mudando de atitude. Quando o que era objeto de crença aparece como algo contraditório ou problemático e por isso se transforma em indagação ou interrogação, estamos passando da atitude costumeira à atitude filosófica.

A atitude filosófica
Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é filosofia?” poderia ser: “A decisão de não aceitar como naturais, óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido”.

Matrix, Sinopse:
Em um futuro próximo, Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem programador de computador que mora em um cubículo escuro, é atormentado por estranhos pesadelos nos quais encontra-se conectado por cabos e contra sua vontade, em um imenso sistema de computadores do futuro. Em todas essas ocasiões, acorda gritando no exato momento em que os eletrodos estão para penetrar em seu cérebro. À medida que o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por meio do encontro com os misteriosos Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss), Thomas descobre que é, assim como outras pessoas, vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus, entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e à liberdade.




Referência:

CHAUI, Marilena. Filosofia: Novo Ensino Médio, Volume único. São Paulo: Ática, 2010, p.6-17.


Atividades
1 – Qual comparação podemos fazer entre a personagem Neo, do filme Matrix, e o filósofo Sócrates?
2 – Por que Sócrates é considerado o “patrono da filosofia”?
3 – Qual é a relação entre O Mito da Caverna e Matrix?
4 – Em que momento se inicia a atitude filosófica? 




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